domingo, 28 de janeiro de 2024

Minibio (acadêmica)

Alexandre Ziani de Borba (30 de agosto de 1992) doutorou-se em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria com a tese Uma investigação acerca da natureza da virtude intelectual e do seu estatuto enquanto ideal regulador da educação (2020). Aos 29 anos de idade assumiu o cargo de professor substituto em sua Alma mater, onde ministrou uma média de quatro disciplinas por semestre para turmas de diferentes cursos, incluindo Psicologia, Ciências Econômicas, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia. Durante o período em que atuou como professor universitário, organizou a segunda edição do simpósio Recent work on intellectual character, que contou com conferências de Heather Battaly, Duncan Pritchard e Ian Church, conduziu semanalmente dois grupos de pesquisa (Laboratório de Epistemologia Contemporânea e Grupo de Estudos em Evolução), traduziu para o português o clássico da epistemologia baseada em caráter, Virtues of the mind (1996), de Linda Zagzebski, e coeditou a primeira antologia de ensaios em língua portuguesa sobre caráter intelectual, Virtudes e vícios da mente humana (2024). Sua pesquisa se dá na intersecção entre os campos da epistemologia, filosofia da educação, filosofia da ciência e ética.

Histórico de temas pesquisados:

  • 2012–2013: epistemologia (fundacionismo vs. coerentismo).
  • 2013–2015: epistemologia das virtudes (justificação e conhecimento).
  • 2015–2020: epistemologia das virtudes e filosofia da educação.
  • 2021–2022: situacionismo epistêmico.
  • 2023–atualmente: epistemologia das virtudes e filosofia da ciência.

domingo, 6 de agosto de 2023

Merritt sobre a ética de Aristóteles

A Sra. Merritt, não o Sr. Alfano, parece ter sido a primeira pessoa a enquadrar o desafio situacionista à teoria das virtudes na forma de uma tríade de proposições inconsistentes — e eu suspeito que o Sr. Alfano, ao formular suas tríades, tenha sido influenciado por ela sem se dar por conta. Seja como for, a tríade formulada pela Sra. Merritt é ainda mais interessante:

  1. A maioria das pessoas pode viver uma vida boa.
  2. As virtudes são qualidades de caráter motivacionalmente autossuficientes constitutivas da vida boa.
  3. A maioria das pessoas não pode possuir qualidades de caráter motivacionalmente autossuficientes.

A proposição 1 é o que eu chamaria de “anti-niilismo existencial”. A proposição 2 corresponde, até prova do contrário, à ética das virtudes aristotélica. A proposição 3 corresponde ao que a Sra. Merritt chama de “psicologia da personalidade situacionista”.

sábado, 1 de julho de 2023

Produção e projetos de escrita

Antologia acadêmica
'The proposition', por Judith Leyster


Tradução acadêmica
  • Zagzebski, Linda Trinkaus. Virtudes da mente: Uma investigação sobre a natureza da virtude e os fundamentos éticos do conhecimento. Traduzido por Alexandre Ziani de Borba. Revisado no Laboratório de Epistemologia Contemporânea da Universidade Federal de Santa Maria.
    • São raros os casos em que um livro nasce já um clássico. É o caso de Virtudes da mente, de Linda Trinkaus Zagzebski. Findado em 1995 e publicado no ano seguinte, este livro logo se tornou a grande referência para aqueles que trabalham a epistemologia com um enfoque em hábitos intelectuais — uma epistemologia “responsabilista” das virtudes, como se sói chamar. De acordo com os próprios autores das recomendações da série Oxford Bibliographies voltadas ao estudo de virtudes intelectuais, este livro é o “padrão-ouro do responsabilismo”. E não é para menos. Quem quer que pegue esta obra para estudá-la a fundo, verá que a filósofa realizou um projeto de fôlego: original, astuto, metódico, corajoso. Este livro notável é a primeira tentativa de estabelecer uma teoria do conhecimento baseada no modelo da teoria das virtudes em ética. O livro desenvolve o conceito de virtude intelectual, e então mostra como tal conceito pode ser usado para oferecer uma explicação dos principais conceitos em epistemologia, incluindo o conceito de conhecimento.
'O Triunfo da Virtude e da Nobreza sobre a Ignorância', por Giambattista Tiepolo


Escritos acadêmicos
  • Book review: Coliva, Annalisa. The Varieties of Self-Knowledge. London: Palgrave Macmillan, 2016. Manuscrito, 40 (3): 87-92.
  • Resenha: Rescher, Nicholas. Epistemic Logic: A Survey of the Logic of Knowledge. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 2005. Principia, 22 (3): 533-537.
  • Uma investigação acerca da natureza da virtude intelectual e do seu estatuto enquanto ideal regulador da educação. 2020. Tese de Doutorado. UFSM: Repositório de Teses e Dissertações.
  • Educando para as virtudes da mente: Uma investigação acerca da natureza da virtude intelectual e do seu estatuto enquanto ideal regulador da educação. Em revisão.
    • O uso de conceitos epistêmicos é inescapável ao discurso educacional. Não só conceitos educacionais básicos como ‘ensino’ e ‘aprendizado’ se referem a uma prática epistêmica e a um bem epistêmico, respectivamente, mas é também comum atribuir à educação o papel de formar nas pessoas qualidades epistêmicas como curiosidade intelectual, pensamento crítico e autonomia intelectual. Por essa razão, é impressionante que a epistemologia tenha se esforçado tão pouco para contribuir com a teoria educacional, e que esta última, por sua vez, tenha evitado se atualizar com respeito ao estado de arte da epistemologia contemporânea. Essa falta de contato entre ambas as áreas prejudica tanto a teoria quanto a prática educacional. Para corrigir isso, este livro busca fundamentar a teoria educacional num programa de pesquisa dominante em epistemologia contemporânea, a saber, a epistemologia das virtudes, desenvolvendo uma análise rigorosa e original do conceito de virtude intelectual e argumentando que um tal conceito provê à educação o padrão de avaliação por excelência.

'Alegoria da Nobreza e da Virtude Triunfando sobre a Ignorância', por Giambattista Tiepolo
  • A ética da pesquisa científica: Um ensaio em filosofia da ciência. Previsão de término: julho de 2025. [Work in progress].
    • A disputa em torno do problema da demarcação insiste em buscar na metodologia da pesquisa científica a sua resposta. Este livro sugere que o que distingue a atividade científica da pseudocientífica é uma certa ética da pesquisa. Até aqui, questões éticas têm sido amplamente negligenciadas em filosofia da ciência e, quando levantadas, a discussão geralmente se dá em termos deônticos, girando em torno dos limites éticos da pesquisa científica e do avanço tecnológico. Essas discussões são importantes, é claro, mas elas tendem a ignorar uma terceira via em ética, a saber: a teoria das virtudes. Este livro propõe que uma ética da pesquisa científica fundada na teoria das virtudes é capaz de lançar luz a alguns dos problemas perenes da filosofia da ciência. Com um enfoque na noção de virtude intelectual, este livro propõe uma nova maneira de responder ao problema da demarcação.

'Experimento com um Pássaro numa Bomba de Ar', por Joseph Wright of Derby


Escritos literários
  • Os trabalhos desajeitados de Amor, ou Hélade enamorada. [Uma comédia pastoril].

Pã. Títiro, pastor de cabra, cabreado, / sentou-se pra cochilar, mas — diacho! — / um chiasco roçou-lhe a cachola. Olhou / pra cima e viu uma flecha espetada / na faia. Eu mesmo só ouvi os cochichos / que a floresta deu conta de espalhar. / O pastor? Levou flecha no traseiro. / Ouvi dizer que um menino travesso / veio tirar-lhe o sossego. Ai, que ódio! / Pois eu protejo os pastores daqui. / Tirava um cochilo tranquilo. E agora? / Me ponho a trabalhar pelos pastores. / Ali vejo o menino. Juro que vou / te dar uns ‘para-te quieto’, moleque! / […]
'Pã e Cupido', por Bertel Thorvaldsen

  • Reflexões sobre a intolerância dos homens. [Um ensaio em filosofia antropológica].
A intolerância — não a violência, meu bom Sr. Padilha —, é contemporânea do homem. Pois, se se prestar bem atenção, não é a mesma violência tão comum aos outros animais? Acaso não é violento um hipopótamo que mata um inofensivo impala que só por sede se aproxima d’água? Acaso não é com violência que sanguinários leões disputam um território e devoram prole alheia? E não são com violentas artimanhas que os chimpanzés predam um pobre macaquinho? Mas acaso há nesses casos uma razão sequer para invocar a intolerância na explicação de tais comportamentos? Não! Vou mais além: se me for concedido que em cada caso de predação entre animais há um mínimo sinal de violência, ver-me-ei obrigado a declarar que a violência é tão antiga quanto o Cambriano! A intolerância, por sua vez, coincide com a modernidade comportamental. A intolerância — e não a violência, ó meu bom Sr. Padilha! — é contemporânea do homem.
'Filósofo com um Espelho', por José de Ribera
  • Lícia. [Um estudo sobre o amor e o ódio]

Se Apeles desejar pintar o Amor, / talvez careça de decentes cores. / Porém, representá-lo é o que basta: / sua silhueta conhecemos todos: / Cupido vem armado de arco e flecha, / e asas voláteis qual os seus caprichos. / […] / Quem pode ao peito os pés pulsar com força, / com os mesmos pés, compor tão ternos cantos; / quem pode um pé roubar soberba tanta, / e a servidão, impor com pés descalços; / quem pode cochichar ao pé do ouvido, / com baixa voz, instar guerreiro ânimo; / quem pode enamorar lançando flechas; / tingir as faces de engelhada gente. / Se Apeles desejar pintar o Amor, / anseio possa colorir cupidos. / *** / Falei sobre Sofia, a minha ave; / Lícia julgou que a preferi a ela. / Não te envergonhas, Lícia, de invejar / uma avezinha? Pois beijinhos dou / nas duas, mas com amores diferentes: / teus lábios mordo; seu biquinho, mimo. / Seria o mesmo Amor tão infantil? / Se crês, permita-me despir o engano: / brindemos às delícias do banquete, / e possa Aspásia te perder em fama.

Mosaic floor depicting Apollo and Daphne, from the Villa Torre de Palma near Monforte, 3rd-4th century AD, National Archaeology Museum of Lisbon, Portugal

Projetos de pesquisa

Possuo dois grandes projetos de pesquisa. O primeiro deles tem já uma década de existência (2013–) e se organizou em torno de duas questões centrais:

  1. O que é uma virtude intelectual?, &
  2. Deve o processo formativo da educação formal orientar-se primariamente em torno do ideal educacional da virtude intelectual?

Nesse projeto, eu emprego a epistemologia responsabilista das virtudes para teorizar sobre a educação. Minhas suposições auxiliares são estas: (1) Conceitos educacionais são conceitos valorativos epistêmicos; (2) O desenvolvimento do caráter intelectual dos educandos em uma instituição de ensino é normativamente mais básico que o aprendizado de conhecimentos e competências; e (3) O conceito de virtude intelectual provê à educação o padrão de avaliação por excelência. Os resultados dessa pesquisa deverão ser publicados numa versão revisada e ampliada de minha tese doutoral, sob o título de Educando para as virtudes da mente: Uma investigação acerca da natureza da virtude intelectual e do seu estatuto enquanto ideal regulador da educaçãoAlguns registros de estudo serão publicados aqui no sítio com os marcadores "annotated bibliography" e "annotations", bem como com marcadores específicos.

Em alguma medida relacionado a esse projeto de pesquisa, venho elaborando uma aplicação da epistemologia baseada em caráter à filosofia da ciência, a fim de responder à questão:

  1. Em que tem fundamento o mérito cognitivo geral que atribuímos à ciência e negamos à pseudociência?

Meu slogan é este: o que distingue a atividade científica da pseudocientífica é uma ética da pesquisa. Minhas suposições auxiliares são estas: (1) O uso do qualificativo ‘científico’ para falar de práticas e teorias indica um mérito epistêmico oposto ao demérito epistêmico indicado pelo qualificativo pseudocientífico; (2) Os méritos epistêmicos de teorias e práticas científicas são mais completamente explicados por propriedades da comunidade científica e de seus membros (grupos e agentes individuais) que por propriedades de regras metodológicas adotadas pela comunidade; e (3) A noção de virtude intelectual é fundamental para explicar a confiabilidade da metodologia da pesquisa científica e a credibilidade da ciência qua instituição. Os resultados dessa pesquisa deverão ser publicados em um ensaio sob o título de A ética da pesquisa científica: Um ensaio em filosofia da ciênciaAlguns registros de estudo serão publicados aqui no sítio com os marcadores "annotated bibliography" e "annotations", bem como com marcadores específicos.

Por fim, meu segundo grande projeto de pesquisa vem ganhando mais forma à medida em que vou me aprofundando mais em teoria da evolução, e provavelmente será o foco de minhas investigações pelas próximas décadas. Surgiu do meu espanto com os fatos seguintes: que parece haver conceitos normativos amplamente compartilhados pelas diversas populações humanas espalhadas pelo globo e que, apesar de tais conceitos capturarem qualidades abstratas, usamo-los com muita naturalidade para atribuir uns aos outros essas qualidades. Está orientado em torno das seguintes questões:

  1. Como explicar que populações humanas linguística e culturalmente tão diversas compartilhem um repertório tão comum de conceitos normativos abstratos (e.g., os conceitos de conhecimento, virtude ou responsabilidade)?, &
  2. Qual é a função que os conceitos epistêmicos, aretaicos e deônticos desempenham na vida humana?

Minha hipótese de trabalho é que a linguagem normativa é uma tecnologia que se desenvolveu e prosperou como uma estratégia para coordenar as atividades em grupo. Há dois cenários que concebo para explicar por que a linguagem normativa tornou-se estável na população humana. O primeiro cenário é um no qual a linguagem normativa simplesmente favorecia a cooperação intragrupal, contribuindo para que o grupo tivesse maior chance de sobrevivência diante das condições hostis que a natureza impunha. O segundo cenário é mais complexo, pois adiciona uma condição inicial. Nele, em condições de competição intergrupal, a linguagem normativa favorecia a cooperação intragrupal, contribuindo para que o grupo que fizesse uso de conceitos normativos abstratos tivesse maior chance de sobrevivência na luta pela existência. O segundo cenário é menos simples, mas arrisca uma predição interessante: Em condições de competição intergrupal, humanos de grupos distintos tenderão a atribuir qualidades positivas ao próprio grupo (e.g., conhecimento) e negativas aos grupos competidores (e.g., ignorância). Se isso for o caso, então temos uma predição de que o preconceito tenderá a prevalecer sob condições de competição intergrupal. De fato, isso explicaria por que o preconceito é efetivamente mitigado quando há contato intergrupal mediado por objetivos comuns e cooperação intergrupal, o que por si só me parece ser uma contribuição valiosa à psicologia social (evolutiva), bem como uma valiosa lição aos reformadores sociais. Uma outra lição valiosa é que muitos comportamentos antissociais e pró-sociais não estão etiologicamente dissociadosAlguns registros de estudo serão publicados aqui no sítio com os marcadores "annotated bibliography" e "annotations", bem como com marcadores específicos.

Minibio (acadêmica)

Alexandre Ziani de Borba (30 de agosto de 1992) doutorou-se em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria com a tese Uma investigaçã...