sábado, 1 de julho de 2023

Projetos de pesquisa

Possuo dois grandes projetos de pesquisa. O primeiro deles tem já uma década de existência (2013–) e se organizou em torno de duas questões centrais:

  1. O que é uma virtude intelectual?, &
  2. Deve o processo formativo da educação formal orientar-se primariamente em torno do ideal educacional da virtude intelectual?

Nesse projeto, eu emprego a epistemologia responsabilista das virtudes para teorizar sobre a educação. Minhas suposições auxiliares são estas: (1) Conceitos educacionais são conceitos valorativos epistêmicos; (2) O desenvolvimento do caráter intelectual dos educandos em uma instituição de ensino é normativamente mais básico que o aprendizado de conhecimentos e competências; e (3) O conceito de virtude intelectual provê à educação o padrão de avaliação por excelência. Os resultados dessa pesquisa deverão ser publicados numa versão revisada e ampliada de minha tese doutoral, sob o título de Educando para as virtudes da mente: Uma investigação acerca da natureza da virtude intelectual e do seu estatuto enquanto ideal regulador da educaçãoAlguns registros de estudo serão publicados aqui no sítio com os marcadores "annotated bibliography" e "annotations", bem como com marcadores específicos.

Em alguma medida relacionado a esse projeto de pesquisa, venho elaborando uma aplicação da epistemologia baseada em caráter à filosofia da ciência, a fim de responder à questão:

  1. Em que tem fundamento o mérito cognitivo geral que atribuímos à ciência e negamos à pseudociência?

Meu slogan é este: o que distingue a atividade científica da pseudocientífica é uma ética da pesquisa. Minhas suposições auxiliares são estas: (1) O uso do qualificativo ‘científico’ para falar de práticas e teorias indica um mérito epistêmico oposto ao demérito epistêmico indicado pelo qualificativo pseudocientífico; (2) Os méritos epistêmicos de teorias e práticas científicas são mais completamente explicados por propriedades da comunidade científica e de seus membros (grupos e agentes individuais) que por propriedades de regras metodológicas adotadas pela comunidade; e (3) A noção de virtude intelectual é fundamental para explicar a confiabilidade da metodologia da pesquisa científica e a credibilidade da ciência qua instituição. Os resultados dessa pesquisa deverão ser publicados em um ensaio sob o título de A ética da pesquisa científica: Um ensaio em filosofia da ciênciaAlguns registros de estudo serão publicados aqui no sítio com os marcadores "annotated bibliography" e "annotations", bem como com marcadores específicos.

Por fim, meu segundo grande projeto de pesquisa vem ganhando mais forma à medida em que vou me aprofundando mais em teoria da evolução, e provavelmente será o foco de minhas investigações pelas próximas décadas. Surgiu do meu espanto com os fatos seguintes: que parece haver conceitos normativos amplamente compartilhados pelas diversas populações humanas espalhadas pelo globo e que, apesar de tais conceitos capturarem qualidades abstratas, usamo-los com muita naturalidade para atribuir uns aos outros essas qualidades. Está orientado em torno das seguintes questões:

  1. Como explicar que populações humanas linguística e culturalmente tão diversas compartilhem um repertório tão comum de conceitos normativos abstratos (e.g., os conceitos de conhecimento, virtude ou responsabilidade)?, &
  2. Qual é a função que os conceitos epistêmicos, aretaicos e deônticos desempenham na vida humana?

Minha hipótese de trabalho é que a linguagem normativa é uma tecnologia que se desenvolveu e prosperou como uma estratégia para coordenar as atividades em grupo. Há dois cenários que concebo para explicar por que a linguagem normativa tornou-se estável na população humana. O primeiro cenário é um no qual a linguagem normativa simplesmente favorecia a cooperação intragrupal, contribuindo para que o grupo tivesse maior chance de sobrevivência diante das condições hostis que a natureza impunha. O segundo cenário é mais complexo, pois adiciona uma condição inicial. Nele, em condições de competição intergrupal, a linguagem normativa favorecia a cooperação intragrupal, contribuindo para que o grupo que fizesse uso de conceitos normativos abstratos tivesse maior chance de sobrevivência na luta pela existência. O segundo cenário é menos simples, mas arrisca uma predição interessante: Em condições de competição intergrupal, humanos de grupos distintos tenderão a atribuir qualidades positivas ao próprio grupo (e.g., conhecimento) e negativas aos grupos competidores (e.g., ignorância). Se isso for o caso, então temos uma predição de que o preconceito tenderá a prevalecer sob condições de competição intergrupal. De fato, isso explicaria por que o preconceito é efetivamente mitigado quando há contato intergrupal mediado por objetivos comuns e cooperação intergrupal, o que por si só me parece ser uma contribuição valiosa à psicologia social (evolutiva), bem como uma valiosa lição aos reformadores sociais. Uma outra lição valiosa é que muitos comportamentos antissociais e pró-sociais não estão etiologicamente dissociadosAlguns registros de estudo serão publicados aqui no sítio com os marcadores "annotated bibliography" e "annotations", bem como com marcadores específicos.

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